Desafios e Oportunidades na Ópera
Ao chegar ao Brasil para um concerto da Academia do Opéra, que ocorrerá neste sábado no Theatro Municipal, Alexander Neef, diretor da Ópera Nacional de Paris, compartilhou sua visão sobre os desafios que enfrenta em sua função, além de refletir sobre o futuro das artes cênicas. Com uma carreira que já passou pelo Canadá e Estados Unidos, Neef, de 51 anos, discute o potencial dos jovens talentos que emergem no cenário da ópera. O evento, que também faz parte das comemorações do Ano França-Brasil, conta com artistas promissores, incluindo o tenor noruego-americano Bergsvein Toverud e a soprano brasileira Lorena Pires Adão, ambos alunados da academia, que interpretarão obras de Bizet e Gounod. Os ingressos variam de R$ 15 a R$ 60 e serão acompanhados pela Orquestra do Theatro Municipal sob a regência de Felipe Prazeres.
Durante a conversa, Neef destacou o compromisso da Academia da Opéra de Paris em formar novos talentos, mesmo em um cenário incerto. Ele enfatizou a importância da persistência entre os jovens artistas, que, apesar da concorrência feroz, continuam a sonhar com uma carreira nas artes. ‘Apenas 1% dos que se dedicam a essa trajetória consegue se estabelecer. Para instrumentistas e bailarinos, a carreira deve começar muito cedo. Já os cantores precisam decidir se querem seguir essa profissão entre 16 e 18 anos. Sem esses jovens, a arte da ópera perderia seu futuro’, ponderou.
Reflexões sobre a Era Digital e a Inteligência Artificial
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O impacto da Inteligência Artificial no mundo da ópera também foi abordado. Neef expressou sua preocupação com a forma como a tecnologia tem permeado as discussões sobre o futuro das artes. ‘Espero que não repitamos os erros cometidos com as redes sociais, que inicialmente vimos como algo divertido, mas que evoluiu para algo muito mais complexo’, alertou. Ele defende que a tecnologia não deve substituir a experiência humana ao vivo, mas sim complementar a arte. ‘O que acontece no palco é o coração da nossa atividade e não pode ser replicado digitalmente’, afirmou.
O diretor ainda refletiu sobre o aprendizado que a pandemia trouxe para o setor. ‘Precisamos repensar como nos conectar com o público quando não há ninguém presente. A arte não mudou significativamente nos últimos dois séculos, por isso é vital reconhecer nosso valor e o que fazemos bem’, finalizou Neef.
O Papel da Ópera na Sociedade
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Fonte: soupetrolina.com.br
Quando questionado sobre a função da ópera em um contexto mais amplo, Neef foi firme: ‘Embora a arte possa ser divertida, ela não deve ser vista como apenas entretenimento. A arte exerce um papel essencial como um laboratório social que permite às pessoas interagir e refletir sobre experiências coletivas e individuais’. Ele traçou um paralelo entre a tragédia grega e a experiência operística, ressaltando que a arte deve provocar uma reflexão profunda, mesmo que isso ocorra dentro de um espaço que simula a vida. ‘A arte permite que se olhe para desconfortos de uma maneira que raramente faríamos na vida cotidiana’, declarou.
Por outro lado, Neef também abordou a importância de manter a relevância econômica da ópera, que depende fortemente da venda de ingressos. ‘Em Paris, temos sorte de os teatros estarem frequentemente cheios, mas isso requer trabalho constante. Notamos uma renovação no público – cerca de 40% da audiência são novos espectadores’, contou. Ele enfatizou que a presença online da instituição não é apenas uma estratégia de lucro, mas uma forma de expandir seu alcance.
O Futuro da Ópera Brasileira
Sobre a presença de óperas brasileiras em palcos internacionais, Neef comentou a importância de trazer obras como ‘Yerma’, de Heitor Villa-Lobos, para a Europa. ‘É uma conexão rica, e estamos desenvolvendo projetos para que isso aconteça. A história da ópera brasileira merece ser contada e celebrada’, disse, refletindo sobre as sinergias culturais entre Brasil e Europa. A obra, que estreará em Tenerife, marca um passo significativo e uma celebração do legado de Villa-Lobos.
Neef, portanto, não apenas compartilha sua visão sobre a ópera, mas também enfatiza um compromisso com a inovação e a pluralidade artística, promovendo um diálogo contínuo entre tradição e modernidade, entre o que é local e o que é global. A sua abordagem ressalta que, no âmago da ópera, existe uma busca incessante por significado, conexão e transformação social.